Deus - minha crença

apresentação de opiniões pessoais

 

Uma pergunta frequente é se acreditamos em Deus.

Qual é a nossa religião?

Até onde isso faz sentido? É importante?

Ter uma fé, crença religiosa, aceitar a força de divindades e seus rituais é próprio do ser humano desde que começou a pensar nas suas limitações e razões de existência.  As crenças religiosas formaram nações e guerras violentíssimas, assim como serviram de terapia à Humanidade.

O poder da mente, das ilusões, das crenças em geral é significativo e objeto de muitos estudos e documentários excelentes. Pode-se agora aprofundar análises impossíveis há poucas décadas. E o que aprendemos?

A evolução dos desafios de sobrevivência poderá ser esquecida se as pessoas não enxergarem que isso só será superado com atitudes objetivas, eficazes.

O dilema da resposta começa na compreensão do que possa ser Deus, o que entendemos com essa palavra. Cada ser humano possui um dicionário próprio que afeta a comunicação em todos os sentidos. o dicionário de cada um contém sutilezas e amplitudes pessoais. Tudo o que falamos, escrevemos e pensamos é função de arquivos que construímos desde que nascemos, talvez antes. Isso exige cuidados especiais em qualquer debate, troca de conceitos que poderão ter a mesma grafia, mas serem compreendidos de forma diferente.

E assim, acreditamos em Deus? Isso é importante?

Seja Deus o que for partindo-se da hipótese de que seja bom, santo amável, onisciente, onipotente e eterno o essencial será fazer o que devemos na consciência de que a vida não é mero acidente.

Seria fantástico ouvir das pessoas (sempre): qual é a sua missão?

Lamentavelmente o medo compromete a visão de um ser superior. De modo geral as religiões, crenças, seitas e até as ideologias imperam nas cabeças humanas como determinações de bajulações.

Se Deus existe, ele precisaria da repetição exaustiva de mantras, rituais, juramentos?

Vivemos em tempos de necessidade máxima de objetividade, para que perder tempo dizendo que se ama a Deus?

O que significa amar?

Será fazer a vontade divina?

Essa seria uma preocupação real na cabeças dos crentes?

A maioria absoluta da Humanidade declara ter religião, acreditar em Deus.

Blasfemar ou contar piadas em torno da figura divina provoca revoltas.

Todo ser humano tem um templo dentro de si.

Mas até onde o sagrado é coerente[1] com a vida pessoal e social das pessoas?

Infelizmente o fanatismo[2] mata, destrói, cria sofrimentos inacreditáveis. essa seria a vontade divina?

Os cristãos, de uma maneira especial, pois dominaram o mundo iocidental, deveriam sempre lembrar o apóstolo Paulo:

Sua primeira carta à Igreja de Corinto, porto de comércio marítimo no Peloponeso, parece ser uma resposta a vários relatórios sobre o estado daquela comunidade. Um dos pontos principais era a degeneração moral. Embora a orientação de Paulo se refira às condições que reinavam numa determinada Igreja, ela oferece um fundamento universal que a eleva acima dos limites de uma época e um lugar definidos. Assim, podemos dizer que essa carta trata da ética cristã. Ela enfatiza, em particular, o amor fraterno como princípio orientador de cada situação da vida (veja o famoso “hino à caridade” no capítulo 13). Na Epístola aos Romanos, Paulo apresenta a salvação divina oferecida em Cristo, para uma Igreja que ele não havia fundado pessoalmente. Fica bem claro que planejava ampliar suas atividades missionárias em direção ao Ocidente, e essa carta devia servir como ponto de partida para uma maior expansão do cristianismo. Nela, Paulo chega perto de fornecer uma síntese da fé cristã. Destaca que é apenas mediante a graça de Deus que o homem pode ser salvo.

 

Gaarder, Jostein; Hellern, Victor; Notaker, Henry. O livro das religiões (pp. 264-265). Companhia de Bolso. Edição do Kindle.

Baruch Spinoza define Deus como um ser onde o amor é sua essência. A intolerância religiosa[3] foi decisiva +a sua maneira de escrever, talvez um Spinoza moderno seja mais explícito

Mas esse gênio da Humanidade teve coragem para diversas obras memoráveis.

Transcrevendo:

Definições1 I — Entendo por causa de si aquilo cuja essência2 implica a existência; ou, em outras palavras, aquilo cuja natureza não pode ser concebida senão como existente. II — Diz-se finita em seu gênero a coisa que pode ser limitada por outra da mesma natureza. Por exemplo, um corpo chama-se finito porque podemos sempre conceber outro maior. Da mesma maneira, um pensamento é limitado por outro pensamento. Mas um corpo não é limitado por um pensamento, nem um pensamento por um corpo.3 III — Entendo por substância o que é em si e se concebe por si: isto é, aquilo cujo conceito não tem necessidade do conceito de outra coisa, do qual deve ser formado. IV — Entendo por atributo4 aquilo que o entendimento percebe de uma substância como constituindo a sua essência. V — Entendo por modo as afecções5 de uma substância, ou, em outras palavras, o que existe em outra coisa, mediante a qual também é concebido.6 VI — Entendo por Deus um ser absolutamente infinito, isto é, uma substância constituída por uma infinidade de atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita.7 Explicação — Digo “absolutamente infinito” e não “infinito” no seu gênero porque daquilo que é infinito somente em seu gênero nós podemos negar uma infinidade de atributos; mas, quanto ao que é absolutamente infinito, tudo aquilo que exprime uma essência e não envolve negação alguma pertence à sua essência. VII — Livre diz-se da coisa que existe unicamente pela necessidade da sua natureza e é determinada por si só a agir: necessária, ou antes, coagida, a coisa que é determinada em outras palavras a existir e a produzir algum efeito segundo certa e determinada razão. VIII — Entendo por eternidade a própria existência, enquanto é concebida como seguindo-se necessariamente da mera definição de uma coisa eterna. Explicação — Tal existência, com efeito, é concebida como uma verdade eterna, assim como a essência da coisa, e, por isso, não pode ser explicada mediante a duração ou o tempo, ainda quando a duração é concebida sem começo nem fim.8

 

Spinoza, Baruch. ÉTICA: Spinoza (Coleção Filosofia) (pp. 12-13). Lebooks Editora. Edição do Kindle.

Deus é amor, o ódio faz sentido?

 

João Carlos Cascaes

Curitiba, 13.12.2021



[1] Alguém já disse que viver é escolher. Muitas pessoas fazem escolhas sem pensar com seriedade se estas são congruentes, ou se existe alguma coerência em sua atitude com relação à vida. Outras sentem necessidade de moldar a atitude delas de maneira mais abrangente e estável.

 

Gaarder, Jostein; Hellern, Victor; Notaker, Henry. O livro das religiões (p. 7). Companhia de Bolso. Edição do Kindle.

[2] Voltaire passou toda a sua carreira fugindo da censura. Durante a vida inteira, travou uma guerra contra o fanatismo, a intolerância e o abuso do poder. Seus ataques ao poder eclesiástico e ao dogmatismo irracional foram especialmente virulentos. Lutou contra a opressão religiosa e a crença dogmática em Deus, embora pessoalmente não fosse ateu. Acreditava que por trás daquele mundo bem-ordenado, que fora descrito por Newton, deveria existir um criador racional. Contudo, não saberíamos nada sobre o criador, já que ele não se revelou ao mundo de maneira sobrenatural, como creem os cristãos, judeus e muçulmanos.

 

Gaarder, Jostein; Hellern, Victor; Notaker, Henry. O livro das religiões (p. 277). Companhia de Bolso. Edição do Kindle.

[3] Uma das maiores ofensas de Spinoza aos olhos acomodados dos seus contemporâneos foi o seu panteísmo, embora o termo só viesse a ser usado em 1705, por John Toland. Esse ponto de vista de que Deus e natureza são idênticos era, de má vontade, permitido aos poetas no ato de criação dos seus trabalhos. Mas no trabalho de Spinoza eles viam uma filosofia propondo que existe uma única substância e, mais ainda, que o homem só pode garantir sua imortalidade se entrar no pensamento de Deus, que é essa única substância!

 

Spinoza, Baruch. ÉTICA: Spinoza (Coleção Filosofia) (p. 9). Lebooks Editora. Edição do Kindle.


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